terça-feira, 29 de janeiro de 2013



O incêndio ocorrido na boate Kiss, em Santa Maria (RS), na madrugada do domingo, 26, fez com que grandes grupos de comunicação do país enviassem jornalistas para cobrir in loco o pós da tragédia que vitimou fatalmente mais de 230 pessoas. Desde o ocorrido, o tema provocou a produção de especiais na TV e no rádio, o domínio das capas de portais noticiosos e foi manchete de jornais. Com a atual postura da mídia, especialistas têm opiniões distintas sobre a qualidade desse trabalho.
Doutor em ciências da comunicação e professor da USP e da ESPM, Eugênio Bucci considera positiva a cobertura da tragédia em Santa Maria. De acordo com ele, os veículos de comunicação aprenderam com as experiências ruins em coberturas trágicas. “Se comparado com outros desastres, escândalos e tragédias, houve melhora significativa no padrão nessa cobertura”, avalia.
Bucci também vê com bons olhos a abordagem dos repórteres que estão na cidade gaúcha. Para o acadêmico, os jornalistas estão sendo respeitosos durante as conversas com autoridades locais e com os parentes que perderam familiares. Ele comenta que a produção das notícias relacionadas ao caso está sendo feita com dinamismo. “Foi uma cobertura ágil”, diz ao fazer questão de falar sobre a produção que mais lhe chamou a atenção. “A edição do ‘Fantástico’ foi excepcional”.
Diferentemente de Bucci, o diretor de conteúdo do Grupo Comunique-se, Fábio Bouéri, enxerga aspectos negativos no trabalho midiático em torno do desastre ocorrido no Rio Grande do Sul. Em sua opinião, a imprensa brasileira tem feito um trabalho pontual, mas que tropeça no tradicional padrão repetitivo de cobertura. “É uma dinâmica previsível, que compara o fato com episódios do passado, investe numa narrativa dramática e sugere candidatos a bandidos e a heróis”, analisa.
Bouéri acrescenta que o jornalismo segue devendo em termos de profundidade, criatividade e educação, mobilizando discursos que poderiam contribuir diretamente para a construção de uma cultura preventiva e não apenas reativa, própria das autoridades públicas. “De maneira geral, a imprensa compartilha da prática de ‘trocar a fechadura somente depois que a porta foi arrombada’. Seria fundamental um papel fiscalizador amparado em objetivos mais consistentes e de longo prazo”.
Emocional dos repórteres
Integrante do Conselho Federal de Psicologia, Roseli Goffman comenta que não se pode cobrar frieza dos jornalistas que estão em Santa Maria. Ela avalia que coberturas como a do incêndio abalam qualquer pessoa, até mesmo o profissional de comunicação. A psicóloga, entretanto, analisa que os repórteres que estão na cidade demonstram despreparo. “É muita desinformação desencontrada, é uma exploração do luto público. O luto precisa de silêncio. Você vê pessoas em choque sendo entrevistadas”.
Outra questão que incomoda Roseli é a postura de jornalistas e veículos em querer a todo custo encontrar responsáveis pela tragédia, resumindo todo o acontecimento a um crime que merece ser severamente punido. “A intenção de encontrar um culpado é sempre precária. Não se avança na questão do humano e na questão da civilização. A culpabilização é sensacionalismo, é violação da privacidade, é geração de violência e de ódio”, afirma.
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